14 de fev. de 2013

Presidente da ACDHRios Brasil Central tem artigo publicado em revista do Governo de Goiás

Fragmento do artigo de Terry Marcos Dourado, publicado na edição de estreia da Revista da Semira,
edição de janeiro de 2013, com circulação em todo o Estado de Goiás.

A primeira edição da "Revista da Semira", que circulou em todo o Estado de Goiás, a partir de janeiro último, traz um artigo especial do bacharel em Direito e jornalista Terry Marcos Dourado, fundador e presidente da Associação por Cidadania e Direitos Humanos LGBT na Região dos Grandes Rios do Brasil Central (ACDHRios Brasil Central), também presidente da Rede de Organizações LGBT do Estado de Goiás (REDELGBT-GO), conselheiro estadual LGBTT de Goiás e diretor executivo na função de secretário nacional de Comunicação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), a maior rede de organizações LGBT da América Latina com status consultivo junto a Organização das Nações Unidas (ONU).

Terry Marcos Dourado, ex-professor da Rede Estadual de Educação e diretor cinematográfico estreante, está produzindo o filme curta-metragem "Menos Um", que pretende mostrar de forma impactante e sem censura a gravíssima problemática das violências homofóbicas (verbal, psicológica, moral e física) nas escolas e universidades brasileiras. Com o título: "Se a escola não ensina, ensine a escola a respeitar a sua cidadania - O sistema educacional brasileiro, em sua metodologia, não funciona como deveria", o seu artigo publicado na revista institucional da Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira), órgão do Governo de Goiás, chama a atenção pública para a necessidade de uma educação mais humana e humanitária, que respeite as diferenças (diversidade) dentro e fora das salas de aula.


O artigo escrito por Terry Marcos Dourado ocupou duas páginas centrais da Revista da Semira.


A seguir, confira a íntegra do artigo de Terry Marcos Dourado publicado na Revista Semira - Edição 01 - Janeiro de 2013:


SE A ESCOLA NÃO ENSINA, ENSINE A ESCOLA A RESPEITAR A SUA CIDADANIA

O sistema educacional brasileiro, em sua metodologia, não funciona como deveria

Por Terry Marcos Dourado (*)

A pesquisa intitulada “Juventudes e Sexualidade”, realizada pela UNESCO e publicada em 2004, aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras, revelou que 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual; 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual; e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula.
Entre tantas outras importantes pesquisas realizadas, destacamos também a produzida e divulgada em 2011, pela organização não-governamental Reprolatina. Realizada em 11 capitais brasileiras, incluindo Goiânia, a pesquisa registra que, durante uma visita dos entrevistadores/pesquisadores em escola da capital goiana, “um estudante se aproximou da equipe de pesquisadores e disse: “Olha, esse aqui é o viadinho da escola”. O menino não falou nada e depois foi agredido fisicamente por colegas. Momentos depois a diretora deu um empurrão num menino surdo para fazê-lo entrar na sala porque ele não tinha “escutado” o sinal para entrar na sala. Na sala de aula não tem intérprete para surdos.”, relata a pesquisa.
A pesquisa da Reprolatina também relata: “Em outra escola, durante uma entrevista com um estudante chegou outro estudante e chutou o entrevistado. Posteriormente vieram um segundo e um terceiro meninos que também chutaram o menino entrevistado, batendo numa ferida que ele tinha na perna. Nessa hora, o menino agredido manifestou sentir dor, mas falou que já estava acostumado a ser agredido. O pesquisador interveio, mas os agressores foram embora sem prestar muita atenção. Duas meninas que estavam próximas, que se referiram como amigas do menino agredido falaram que ele gosta de ser agredido e que, inclusive, provoca as agressões. (...)”.
Estes, são pequenos fragmentos de uma gravíssima doença social chamada homofobia que, como um câncer ou o HIV/Aids, vai corroendo mentes ignorantes; também a vida e as esperanças de um futuro melhor da parte de suas vítimas. São adolescentes, jovens e adultos, excluídos do convívio social, “expulsos” ou “deletados” das escolas e universidades goianas e brasileiras pelo simples motivo de terem uma sexualidade ou uma orientação sexual ou uma identidade de gênero diferente dos padrões heteronormativos de uma sociedade que, embora finja ser diferente, ainda é ultraconservadora, dogmática, religiosamente fanática, e pseudomoralista, em pleno século 21.
Considerando que a sexualidade não é necessariamente perceptível, salvo quando ela é publicamente expressa, seja por via verbal ou através das manifestações de afeto, em plena “era moderna”, ainda há uma forte vigilância social considerando o tripé comportamental “sexo-gênero-sexualidade”, a partir do sexo masculino e feminino, gerando expectativas sobre o que são coisas de homens e coisas de mulheres e, a partir daí, criando formas de ser, de agir e de se expressar. Mas à medida em que as pessoas de um determinado sexo não seguem à risca tais expectativas, elas sofrem punições, na forma de discriminação, marginalização ou mesmo sendo física, moral e psicologicamente violentadas, uma vez que o tal “desvio” pode significar uma ameaça de rompimento da norma heterossexual, o que seria “inaceitável” e “inadmissível”.
Capa da edição de estreia da "Revista da Semira".
Por esta razão, alguns recentes pesquisadores entendem que a homofobia não afeta somente lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). É “normal” (no sentido de rotina) que um indivíduo qualquer, que não corresponda às normas de gênero dos padrões heteronormativos da sociedade, seja tratado, sobretudo, como um potencial homossexual e, assim, seja discriminado como tal. Há diversas outras situações em que a homofobia causa estragos na vida de homossexuais, e até de heterossexuais, complicando a vida, por exemplo, de parceiros ou parceiras de bissexuais, travestis e transexuais que sofrem discriminação por se relacionar com pessoas LGBT e amigos/as e parentes destas últimas podem ser retaliados/as por seu convívio com LGBT ou sofrem indiretamente com o preconceito e discriminação voltados a pessoas próximas.
No contexto geral, com relação aos aspectos social e político, a homofobia afeta a todos e todas, se considerarmos o fato de que a homofobia é um sintoma gravíssimo de uma sociedade que promove a discriminação, a desigualdade, por não respeitar a pluralidade ou diversidade sexual.
Uma das facetas da homofobia se manifesta por meio de crimes de ódio, ou seja, assassinatos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), motivados pela discriminação destas orientações sexuais e identidades de gênero, que no entendimento de preconceituosos e homofóbicos, ferem diretamente o direito fundamental à vida. Desde meados dos anos de 1980 o Grupo Gay da Bahia (GGB) produz o Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais, que na sua edição deste ano de 2012, até hoje, 10 de dezembro, já contabilizou quase 320 “homicídios” – um recorde altamente negativo para o Brasil, na área dos direitos humanos, pois o nosso país, a cada ano, se afirma como o país com o maior número de assassinatos homofóbicos no mundo.
Não podemos esquecer que a homofobia que ocorre via estigmas, preconceitos e discriminações, ainda torna suas vítimas, cidadãs e cidadãos LGBT, muito mais vulneráveis à depressão, transtornos de ansiedade generalizados e de conduta e distúrbios no uso de álcool e drogas. Além disso, fazem com que pessoas LGBT tornem-se mais propensas a pensar em e atentar contra suas próprias vidas, ou a fugirem de suas casas (isso, quando não são expulsas pelas próprias famílias) passando a viver na marginalidade.
O Brasil, através de suas autoridades governamentais, em todas as esferas (municipais, estaduais e federal) precisa, emergencialmente por um fim definitivo nesta realidade maligna, cruel, absurda. Uma realidade inaceitável, inadmissível, mas que ocorre todos os dias dentro e fora das escolas brasileiras: a homofobia!. Uma realidade dolorosa para centenas, milhares de estudantes que são execrados, humilhados, torturados em sua dignidade e cidadania, torturados fisicamente (alguns até a morte!)...
Cada vez mais adolescentes e jovens vêm sendo humilhados, socialmente excluídos da sociedade e do ambiente escolar por terem a orientação sexual ou a identidade de gênero diferente da "maioria" das pessoas/colegas. São ações de "bullying", são ações preconceituosas... É a homofobia presente - e cada vez mais forte – dentro e fora das escolas brasileiras. Escolas que deveriam, em tese (e também na prática), serem ambientes de educação e formação de um caráter humano sadio, sem preconceitos, onde todos sejam iguais mesmo em suas diferenças. Mas, infelizmente, a verdade é outra.
O sistema educacional brasileiro, em sua metodologia, não funciona como deveria. Há muitas falhas. Os preconceitos sociais, em especial a homofobia, fazem parte da rotina escolar em todos os 27 Estados Brasileiros, incluindo o Distrito Federal. E o resultado desta lastimável realidade é, dentre outras situações negativas, o alto índice de evasão escolar pelas vítimas dos preconceitos, pelas vítimas da forte homofobia. Uma maioria quase absoluta de professores, "educadores", coordenadores pedagógicos, funcionários administrativos, diretores escolares e demais servidores das escolas brasileiras são ignorantes em não saberem como lidar naturalmente com a homossexualidade na rotina escolar. As escolas brasileiras - exceções à parte - não sabem educar seus alunos para respeitar a diversidade natural da dinâmica da Vida. Não sabem como educar seus alunos para respeitar o próximo como ele é, respeitando as diferenças entre seres humanos que completam o todo chamado "Sociedade".
Portanto, cidadãs e cidadãos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais): se a escola não ensina, está mais do que na hora de ensinarmos a escola a respeitar a sua cidadania.