5 de abr. de 2012


Nota Oficial da REDELGBT-GO em apoio às pessoas "trans" vítimas de violência e exploração sexual no Estado de Goiás


OFÍCIO CIRCULAR N.º 01/12/REDELGBT-GO
                   

Estado de Goiás, 05 de abril de 2012.



NOTA OFICIAL DA REDELGBT-GO
REDE DE ORGANIZAÇÕES LGBT DO INTERIOR DO ESTADO DE GOIÁS

Corpo de travesti desconhecida assassinada em Rio Verde (GO), em fevereiro último.
Rede de Organizações LGBT do Interior do Estado de Goiás (REDELGBT-GO), uma organização não-governamental (ONG) fundada em 22 de novembro de 2011, na cidade de Anápolis (GO), contando atualmente com o apoio fundamental da maior rede/organização LGBT da América Latina, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), hoje, com 257 organizações-membro, e sendo inicialmente constituída pelas seguintes organizações não-governamentais do interior goiano: ACDHRio – Associação por Cidadania e Direitos Humanos LGBT de Rio Verde/GO e Região; AGTLA – Associação de Gays, Transgêneros e Lésbicas de Anápolis; MCDHCAT – Movimento por Cidadania e Direitos Humanos LGBT de Catalão/GO e Região;AJDH-Nova Mente: Associação Jataiense de Direitos Humanos/Nova Mente (Jataí/GO) e tendo a transexual Sarah Wrbietta como ponto focal na cidade de Itumbiara/GO, VEM A PÚBLICO MANIFESTAR-SE OFICIALMENTE EM REPÚDIO À CRESCENTE VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA, PRINCIPALMENTE CONTRA TRAVESTIS E TRANSEXUAIS (PESSOAS TRANS) EM TERRITÓRIO GOIANO.
Vale ressaltar que, embasada pelo princípio da unidade de forças, a nossa Rede de Organizações LGBT do Interior do Estado de Goiás (REDELGBT-GO) nasceu já estando presente em 110 municípios goianos. No momento, a REDELGBT-GO já abrange 44,71% dos municípios do Estado de Goiás. E, para breve, pretendemos fazer com que a REDELGBT-GO abranja 100% dos 245 municípios goianos (exclui-se, aqui, Goiânia, por não ser cidade do interior).
Entre outras questões e metas de trabalho/ações, a REDELGBT-GO também prioriza atuar fortemente na área da segurança pública, em especial no combate à homofobia, preconceito social que tem violentado os direitos humanos de milhares de pessoas em todo o Brasil.
Vale ressaltar que, segundo dados divulgados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), sob a coordenação do antropólogo e decano do Movimento Homossexual Brasileiro, Luiz Mott, somente em 2010, foram registrados em território nacional 260 homicídios contra cidadãos e cidadãs LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), todos os crimes cometidos com uma violência brutal e covarde.
Goiás, infelizmente é um dos Estados mais homofóbicos do Brasil. E nossa rede vai lutar, com veemência e bravura, para combater e mudar esta lamentável realidade. E nesse sentido, o apoio e a parceria com o governo estadual e prefeituras serão imprescindíveis, fundamentais.
E acaba de ser divulgado, mais precisamente no início de abril de 2012, o relatório-geral dos assassinatos vitimando lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) no Brasil, durante o ano de 2011. Segundo o GGB, entidade pesquisadora, produtora e divulgadora do relatório, os registros de homicídios contra LGBT novamente aumentaram, tendo sido oficialmente registrados 266 crimes, representando um aumento de 118% nos últimos seis anos (em 2007, foram registrados 122 assassinatos de LGBT em nosso país).
Segundo a mais recente estatística nacional divulgada pelo GGB, no ranking estadual brasileiro dos homicídios contra LGBT, o Estado de Goiás terminou 2011 na oitava posição, com 12 assassinatos registrados, sendo o líder na Região Centro-Oeste do Brasil. Somente nesses três primeiros meses de 2012 já foram documentados 104 homicídios contra homossexuais no Brasil, quase o dobro registrado no mesmo período no ano passado, representando uma morte de pessoa LGBT a cada 21horas.
Agora, como se não bastasse a cidade de Rio Verde – uma das maiores e mais importantes do interior de Goiás e, economicamente, do Brasil – estar se tornando a cidade campeã em violência/assassinatos contra travestis e transexuais, após o registro – por enquanto – de seis crimes vitimando pessoas trans em menos de um ano, elevando a cidade ao macabro e sangrento status de líder de assassinatos de travestis e transexuais no Centro-Oeste do Brasil; acabamos de tomar ciência de outra lamentável realidade, desta vez ocorrendo na cidade de Anápolis, outro polo econômico goiano: o aliciamento e a escravidão sexual de travestis e transexuais, segundo informações, a seguir, baseadas em reportagem publicada pelo site de notícias “G1 Goiás”, a saber.
Segundo o “G1 Goiás”, uma travesti de 30 anos foi presa na manhã desta quarta-feira (4/04), na cidade de Anápolis, a 55 quilômetros da capital, Goiânia, suspeita de favorecer a prostituição na cidade. De acordo com a Polícia Civil, na casa da travesti foram encontradas outras 15 travestis. Todas foram levadas para delegacia e liberadas após serem ouvidas pela autoridade policial.
Segundo a delegada responsável pelo caso, Kênia Batista Dutra, a travesti suspeita estava sendo investigada há seis meses, depois de a polícia de ter recebido denúncias de que ela estaria aliciando menores em sua residência. Após monitorar o local, a polícia realizou uma busca domiciliar na manhã desta quarta-feira.
A delegada informou que a maioria das travestis é do Maranhão - estado de origem da suposta travesti aliciadora – e também do Pará. De acordo com delegada outras três possíveis aliciadoras, que ainda não foram identificadas, fazem promessas e convencem as travestis a virem para Goiás.
A delegada explica como funcionava o esquema: “É gente de fora do estado que alicia e promete a eles recursos para se montarem como travestis aqui em Goiás. Aí eles vêm para morar na casa da aliciadora e pagam por isso. Ou seja, a pessoa suspeita se aproveita da renda obtida pelas travestis”, explicou a delegada.
“Informalmente, as travestis descobertas pela polícia como vítimas do esquema disseram que pretendem voltar para seus estados ou sair da cidade”, segundo informações da delegada Kênia Batista. A suposta travesti aliciadora foi autuada pela polícia por favorecimento à prostituição e rufianismo, que ocorre quando se tira proveito da prostituição alheia. Se condenada, a travesti aliciadora poderá ser condenada a até 11 anos de prisão.

CONSIDERAÇÕES DA REDELGBT-GO

            Não é de hoje que travestis e transexuais são cada vez mais execradas, humilhadas, agredidas, violentadas e marginalizadas pelas sociedades goianas e brasileira.
            Considerando que todas as mazelas, todos os problemas sociais, começam pela ausência de uma boa e adequada educação/formação social basilar (inclui-se aqui famílias física, financeira e psicologicamente estruturadas); e que a situação tornou-se muito pior após a censura/veto do Kit Anti-Homofobia pela homofóbica presidenta da República, Dilma Vana Rousseff, que com seu gesto inconsequente e incentivado pela poderosa força política religiosa – que, lamentavelmente, parece mandar no Governo Federal, atropelando e violentando os princípios constitucionais do Estado Laico Brasileiro – acabou por fortalecer e incentivar, de forma indireta, a enorme evasão escolar de alunos/as LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), contribuindo, assim, para que estas pessoas que, em sua maioria, são expulsas de casa pela família, vão procurar a sobrevivência – de qualquer forma e, a qualquer preço – nas ruas, nas bocas-do-lixo, enfim, nos mais terríveis e degradantes submundos da sociedade brasileira.
            Não somente aqui no Estado de Goiás, mas em todas as unidades federativas do Brasil faltam uma educação correta e eficiente que combata verdadeiramente os preconceitos por orientação sexual e por identidades de gênero. Faltam políticas públicas fortes, inteligentes e verdadeiramente eficientes que priorizem a cidadania e a dignidade de homossexuais masculinos e femininos, principalmente pessoas trans (travestis e transexuais), reinserindo as pessoas LGBT no seio da sociedade brasileira.
            É preciso considerar que cada vez mais homossexuais – principalmente travestis e transexuais – que são abandonados pela família, são excluídos/as da sociedade, tornar-se-ão presas fáceis de aliciadores/aproveitadores/escravizadores que, não perderão tempo em vender ou traficar ilusões a quem já não tem mais autoestima nem esperança de uma vida digna e decente em decorrência dos fortes traumas, das grandes e dolorosas feridas causadas por suas famílias e pelas autoridades políticas brasileiras municipais, estaduais e federais.
            Enquanto os poderes políticos constituídos do Brasil, desde municípios até o poder-mor, o Governo Federal, continuarem reféns de fundamentalistas religiosos e, a mando deles, continuarem amordaçando e violentando o Estado Laico Brasileiro, e assim, fingindo priorizar a garantia de todos os direitos humanos no Brasil, estas mazelas sociais que, cada vez mais vitimam as minorias, em nosso caso, cidadãos e cidadãs LGBT brasileiras e goianas, cada vez mais humilhações, mais exclusões, mais violência e mais mortes vão continuar acontecendo. Isto é uma vergonha, uma afronta ao ser humano que jamais podemos aceitar ou compactuar.
Este é o posicionamento oficial da Rede de Organizações LGBT do Interior do Estado de Goiás (REDELGBT-GO) que, cobra providências emergenciais das autoridades competentes, para resolver definitivamente toda a problemática que macula a imagem e atormenta a população LGBT do Estado de Goiás e de todo o Brasil.
REDELGBT-GO ratifica que cidadãos e cidadãs, brasileiros e brasileiras lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais são – acima de quaisquer conceitos e preconceitos – seres humanos e, assim sendo, merecem respeito e valorização humana incondicionais, merecem toda e qualquer espécie de proteção do Estado Brasileiro e de suas unidades federativas.
Enquanto isso não acontece, na prática do dia-a-dia desta Nação, falar em “direitos humanos” no Brasil, por enquanto é o mais absurdo dos engodos, a mais intragável de todas as mentiras.
Este é o posicionamento oficial da Rede de Organizações LGBT do Interior do Estado de Goiás (REDELGBT-GO). 




Bel. TERRY MARCOS DE OLIVEIRA BARROS DOURADO
Presidente da REDELGBT-GO
Rede de Organizações LGBT do Interior do Estado de Goiás
Fundador e presidente da ACDHRio (Rio Verde/GO e Região)

Fundador e Presidente da ACDHRio (Associação por Cidadania e Direitos Humanos LGBT de Rio Verde/GO e Região)   |   Jornalista e Bacharel em Direito   |   Conselheiro LGBT do Estado de Goiás  |  Representante da ABGLT no GT LGBT do Ministério do Trabalho e do Emprego (1º Suplente Masculino)   |   Coordenador Regional de Comunicação e Relações Públicas da RedLacVo+ ((Red Latinoamericana y del Caribe de Acción Voluntaria em VIH/Sida) – Buenos Aires, Argentina)   |   Assessor de Imprensa e Comunicação do Comitê IDAHO-Brasil (The International Day Against Homophoby) – Paris, França.



CÍCERO DINIZ VASCONCELOS
Vice-Presidente da REDELGBT-GO
Presidente da AGTLA (Anápolis/GO)