4 de abr. de 2012

Brasil: 266 LGBT assassinados em 2011

No ranking estadual brasileiro dos homicídios contra LGBT, o Estado de Goiás terminou 2011 na oitava posição, com 12 assassinatos registrados, sendo o líder na Região Centro-Oeste do Brasil. Somente nesses três primeiros meses de 2012 já foram documentados 104 homicídios contra homossexuais no Brasil, quase o dobro registrado no mesmo período no ano passado, representando uma morte de pessoa LGBT a cada 21horas.

Corpo da travesti Ellen, recentemente assassinada a tiros em Rio Verde (GO).

   O número de assassinatos de homossexuais no Brasil atingiu o ápice em 2011, chegando a 266, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), que acompanha os casos desde a década de 1970. De acordo com a entidade, houve um crescimento pelo sexto ano consecutivo e, este ano, deve ser registrado um novo recorde sangrento. Isso porque, nos três primeiros meses de 2012 já foram registrados em todo o Brasil 106 assassinatos de homossexuais.
   Os dados divulgados pelo GGB se baseiam em notícias sobre os crimes veiculadas em jornais e na internet. Para o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB, o número real de mortes deve ser maior. Mott criticou o governo federal por não criar um banco de dados específico sobre crimes contra gays. "Esse banco de dados estava previsto desde o Plano Nacional de Direitos Humanos 2, de 2002. Nem Lula (ex-presidente do país) nem Dilma (a atual presidente) cumpriram essa obrigação", disse Mott.
   De acordo com o relatório do GGB, a maior parte dos assassinatos contra homossexuais registrados em 2011 no Brasil foi contra gays (60%), seguido de travestis (37%) e lésbicas (3%). "A maior visibilidade dos homossexuais --estimulados pelas paradas gays e pela presença de personagens gays e travestis em programas de televisão (principalmente novelas) -- provoca maior agressividade de indivíduos homófobicos", justificou Mott.
   Os Estados com mais mortes foram Bahia (28), Pernambuco (25) e São Paulo (24). Para o GGB, 99% desses homicídios têm relação com homofobia. Segundo o antropólogo, há também uma "homofobia cultural, que expulsa as travestis para a margem da sociedade, onde a violência é mais endêmica" e uma "homofobia institucional, quando o governo não garante a segurança dos espaços frequentados pela comunidade LGBT".
   Em 2010, em todo o Brasil, 260 homossexuais foram mortos. As estatísticas começaram a subir a partir de 2006, quando foram registrados 112 assassinatos.


Antropólogo fundador do GGB, Luiz Mott (esquerda) e o fundador e presidente da 
ACDHRio, Terry Marcos Dourado (direita), durante ato público na Candelária,
na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em novembro de 2011.


   Veja, a seguir, o relatório oficial divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB):

ASSASSINATO DE HOMOSSEXUAIS NO BRASIL: RELATÓRIO 2011
(Release)




   O Grupo Gay da Bahia (GGB), divulga mais um Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais de 2011.
    Foram documentados 266 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil no ano passado, 6 a mais que em 2010, um aumento 118% nos últimos seis anos (122 em 2007). Os gays lideram os “homocídios”: 162 (60%), seguidos de 98 travestis (37%) e 7 lésbicas (3%).
   O Brasil confirma sua posição em primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, concentrando 44% do total de execuções de todo mundo. Nos Estados Unidos, com 100 milhões a mais de habitantes que nosso país, foram registrados 9 assassinatos de travestis em 2011, enquanto no Brasil, foram executados 98 “trans”. O risco de um homossexual ser assassinado no Brasil é 800% maior que nos Estados Unidos.
   Neste ano o GGB outorgou o troféu Pau de Sebo à presidenta Dilma na condição de principal inimiga dos homossexuais do Brasil, pela proibição do kit anti-homofobia e do filme de prevenção da aids para gays no carnaval e pelo fracasso de suas políticas públicas de erradicação dos crimes homofóbicos. país.
   O Grupo Gay da Bahia, que há mais três décadas coleta informações sobre homofobia no Brasil denuncia a irresponsabilidade dos governos federal e estadual em garantir a segurança da comunidade LGBT: a cada 33 horas um homossexual brasileiro foi barbaramente assassinado em 2011, vítima da homofobia. Nunca antes na história desse país foram assassinados e cometidos tantos crimes homofóbicos.
   A Bahia pelo sexto ano consecutivo lidera essa lista macabra: 28 homicídios, seguida de Pernambuco (25), São Paulo (24), Paraíba, Alagoas e Minas Gerais com 21 casos cada e Rio de Janeiro, 20. Roraima e Acre não registraram nenhum “homocídio”, e Distrito Federal e Amapá apenas 1.
   Proporcionalmente ao número total de habitantes, os estados mais homofóbicos são Alagoas e Paraíba, cuja população conjunta representa 3,6% dos brasileiros e não obstante concentraram 16% destes crimes. O total de mortes registradas nestes dois estados nordestinos (42), é 60% superior a todos os estados da região Norte (27). Rondônia e Tocantins igualmente estão entre os estados mais perigosos: representando apenas 2% da população nacional, aí foram assassinados 5% de LGBT em 2011.
   O Nordeste confirma mais esse ano ser a região mais homofóbica do país: abrigando 30% da população brasileira, registrou 46% dos LGBT assassinados. 34% dos “homocídios” ocorreram no Sudeste/Sul, embora abrigando mais da metade de nossa população (54%). Norte/Centro-Oeste, com 16% de nosso contingente demográfico, concentraram 19% dos assassinatos.
   Segundo o responsável por este Relatório, o Prof. Luiz Mott, antropólogo da Universidade Federal da Bahia (UFBa) e fundador do GGB, “a subnotificação destes crimes é notória, indicando que tais números representam “apenas a ponta de um iceberg de crueldade e sangue”. “Como o Governo Federal se recusa construir um banco de dados sobre crimes de ódio contra homossexuais, baseamos tal relatório em notícias de jornal e internet, que com certeza está longe de cobrir a totalidade desses sinistros” – disse Mott.
   Quanto a idade, 4% das vítimas tinham menos de 18 anos ao serem assassinados, sendo o mais jovem um estudante gay paulista de 14 anos. 46% dos LGBT mortos tinham menos de 30 anos, e 11%, mais de 50 anos. A faixa etária que apresenta maior risco de assassinato, 55%, situa-se entre 20-40 anos. A vítima mais velha tinha 73 anos, um idoso de Salvador cuja família não permitiu a divulgação de seu nome nos jornais.
   Os homossexuais assassinados exerciam 48 diferentes profissões, confirmando a presença do “amor que não ousava dizer o nome” em todas as ocupações e extratos sociais. Predominam as travestis profissionais do sexo, 72 das vítimas (45%), seguidas de 11 estudantes, 8 cabeleireiros/as, 7 funcionários/as públicos, 5 policiais, 3 padres e 2 pais de santo.
   Quanto à “causa mortis”, repete-se a mesma tendência dos anos anteriores, confirmando pela violência extremada, trata-se efetivamente de crimes de ódio: 70 dos assassinatos foram praticados com arma de fogo. Foram registrados, ainda, 67 assassinatos por arma branca (faca, foice, machado, tesoura), 56 espancamentos (pauladas, pedradas, marretadas), 8 enforcamentos. Constam ainda afogamentos, atropelamentos, carbonização, degolamentos, empalamentos e violência sexual , asfixiamentos e torturas.
   Nove das vítimas levaram mais de 10 facadas e três mais de 10 tiros. A travesti Idete, 24 anos, de Campina Grande/PB, teve sua execução filmada e divulgada na internet, levando 32 facadas. O cantor gay Omar Faria, de Paraitins/AM, aos 65 anos, foi morto com 27 facadas dentro de sua casa. Crimes de ódio!
   Seriam todos esses 266 assassinatos crimes homofóbicos? O Prof.Luiz Mott é categórico em dizer que “99% destes “homocídios” contra gays têm como motivo, seja a homofobia individual (quando o assassino tem mal resolvida sua própria sexualidade), seja a homofobia cultural (que expulsa as travestis para as margens da sociedade onde a violência é mais endêmica), seja a homofobia institucional (quando os governos não garantem a segurança dos espaços frequentados pela população LGBT.”
   Mott acrescenta que “quando o Movimento Negro ou Feminista divulgam suas estatísticas, não se questiona se o motivo das mortes foi racismo ou machismo, porque exigir só do movimento LGBT atestado de ódio nestes crimes hediondos? Ser travesti já é um agravante de periculosidade dentro da ótica machista!”, conclui Mott.
   O Grupo Gay da Bahia (GGB) disponibiliza em seu site WWW.GGB.ORG.BR as tabelas em que se baseia este relatório anual assim como o manual “Gay vivo não dorme com o inimigo” como estratégia para erradicar esse “homocausto”.
   Somente nesses três primeiros meses de 2012 já foram documentados 104 homicídios contra homossexuais, quase o dobro do ano passado, uma morte a cada 21horas.
   No ranking estadual dos assassinatos de homossexuais em 2011, segundo o GGB, o Estado de Goiás ocupa a oitava posição com o registro de 12 homicídios contra pessoas LGBT. Ainda referente ao ano de 2011, na região Centro-Oeste, Goiás é o campeão em registros de assassinatos vitimando pessoas LGBT, seguido pelos Estados de Mato Grosso (8 registros), Mato Grosso do Sul (4 registros) e o Distrito Federal (1 registro). (Fonte: GGB)